30/06/2025

Luísa Machado Rodrigues: Universidades sénior

Universidades sénior

Mais um ano letivo se vai, outro aí vem! Dá que pensar o bem atualmente banal que é contar com uma Universidade Sénior quase por todo o lado, a nível internacional e nacional, tanto mais quanto tem sido fulgurante o aumento da quantidade deste tipo de universidades no nosso país qualquer que seja a região.

Muito há já escrito sobre o assunto, mas há curiosidades que talvez não sejam do domínio de muitos de nós, utilizadores de um tal benefício para a ocupação do nosso tempo disponível, socialização e saúde mental, sendo que me ocorre aqui partilhar uma dessas curiosidades: o como e quando não só nasceu a ideia como também se passou à prática e se criou a primeira Universidade Sénior.

Curiosamente foi numa universidade formal, a Universidade de Toulouse, em França, em 1973, que um dos respetivos docentes, o Professor Pierre Vellas (1), teve a ideia e apresentou uma proposta inovadora de criação de uma entidade inexistente, com critérios diferentes dos das universidades vigentes e que designou por Universidade Sénior (US). Uma proposta bem acolhida pelo Orgão académico respetivo que, por contar com representantes de peso, nomeadamente, da OMS, da OEDT e da UNESCO, facilitou o processo que se seguiu. Tão pronta foi a aceitação que fez nascer desde logo a primeira US implementada precisamente em Toulouse. Mais, a sua criação foi acompanhada de imediato da criação da AIUTA, uma associação internacional com o objetivo de multiplicação das US mundo fora como veio a acontecer.

O lado inovador da proposta de Vellas foi ter por fundamento a lacuna de respostas, inclusive por parte da Academia, ao encontro das necessidades da Terceira Idade, a geração saída da vida ativa e a crescer demograficamente devido ao aumento da esperança de vida. Segundo ele, a US seria uma alternativa para suprir aquela lacuna se fosse centrada na promoção de programas de bem-estar físico e mental, de aprendizagem ao longo da vida e de inclusão social. Uma filosofia assente no reconhecimento do valor de uma geração com um capital imperdível, um amplo saber adquirido, mas a perder-se no imobilismo em que viviam os seniores. Uma filosofia programática ancorada num regime livre, tolerante e flexível ajustado às características da fase etária do grupo-alvo e traduzido num modelo institucional, privilegiando a informalidade, a interdisciplinaridade e a partilha. Partilha esta em paridade, independente de habilitações académicas, títulos, credos ou outros na assunção do benefício pessoal, social e sanitário que é congregar um património inalienável como a história e a experiência de vida que cada um traz consigo.

Enfim, um benefício que muito deve ao engenho e pioneirismo de alguém da Academia que soube interpretar os tempos e trazer ao proscénio a academia não convencional que é a Universidade Sénior.

(1) P. Vellas, Les chances du troisième âge, Ed. Stock, 1974/ P. Vellas, Le troisième souffle, Ed. Grasset, 1977

Luísa Machado Rodrigues

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